(continuação da edição anterior)
Referindo-se à nossa obra de arte, o próprio escultor afirmou: Cristo tem o dom da Palavra! Imaginei o Cristo caminhando pelo mundo e ensinando às multidões. Este mesmo modelo se aplica a nós na nossa missão sacerdotal, tanto na dimensão batismal como pelo sacramento da Ordem que os seminaristas se propõem receber. A escultura traz as dimensões configurativas do nosso Batismo: no manto temos a prefiguração de uma casula, recordando a dimensão sacerdotal. Na cabeça, uma coroa, recordando a dimensão régia, e, nas mãos, a dimensão profética. Sim, profetismo antes de ser feito com a boca é feito com as mãos. É a lógica da encarnação escolhida por Deus, concretizada entre nós por Jesus, e continuada na Igreja pelo Espírito Santo. A Palavra máxima que ressoa da boca de nosso Cristo, visto sob o prisma régio, é o Evangelho vivo como lema: “Ide e pregai o evangelho a toda criatura”.
Suas mãos também trazem um discurso vivo: A primeira está estendida: é a mão de quem chama, como mãe que, antes de dizer “venha cá”, estende a mão como quem quer acolher, quer proximidade, quer abraçar. A outra aponta o caminho, Ele mesmo. Ambas estão na altura do coração, aquele coração que se esvaiu de Amor no calvário, e assim nasce a Igreja, o corpo místico de Cristo prolongado no tempo e na história. Os olhos atentos também devem intuir que a nossa Igreja é essencial, nela não há lugar para devaneios. Essa Igreja apresenta com propriedade nossa vida, principalmente a vida dos seminaristas, vida esta permeada por gritante silêncio cotidiano. Nela se olha para o Cristo, o ressuscitado pelo Pai, que é elevado por anjos em uma grande patena, para indicar o santo sacrifício da missa que é memorial cotidiano e principal na vida do padre, para o qual todo caminho formativo diariamente culmina. A teologia os ensina que só pode haver ressurreição porque o redentor passou pela cruz e aniquilou-se, o que podemos bem ver na cruz ostentada ao fundo.
Recordo com prazer que, em 2007, visitei a casa do artista, em Pomerode. Atendido por seu filho, conheci melhor seu trabalho e, enquanto lançava olhares nas prateleiras empoeiradas do escultor alemão já falecido, lá encontrei a estatueta modelo de nosso Cristo Sumo Sacerdote, o que me causou grata comoção. Dez anos depois, como sacerdote, trabalhando nesta casa de formação e olhando nosso Cristo todos os dias, fui impelido a escrever estas páginas que são históricas, testemunhais e de gratidão. Foi também este Cristo forte, decidido, itinerante que me serviu de espelho para adesão cristã na vocação presbiteral, e agora de forma muito particular, fazendo com que outros descubram a importância de seguir a Cristo, tão bem representado na nossa capela.
Pe. Eder Claudio Celva
Vigário Paroquial do Santuário de Azambuja e
Formador do Seminário de Azambuja